Pai-Ofício

Uma odisséia inextricável

Porém ainda sim, realizável

Posto que a dádiva nos é entregue

Sem prévio aviso.

Há de ser fluido, dizem.

O labor no caminho adiante,

Porém, que mais seria senão

A natureza desafiando o ser,

O Ser-Pai-Que-Tudo-Sabe

E que tudo vê...

Em verdade, nada sabe e tudo receia

Mas resiste, heróico, persiste e existe.

Energia

Escorre pelo corpo como suor
Refletindo na pele inerme
Explode no interior

Salta em súbito 
Ao encontro de um par

Certeiro como flecha

Ávido por atração

E assim, em meio ao caos

Floresce em cores vivas

Um amanhecer encantador

Raiva

Foi decerto um devaneio temporário
Que atingiu bruscamente o peito
E fez estremecer toda minha estrutura racional.

Infindável

Por vezes, irrompe uma euforia entorpecente
Dessas que causam júbilo,

E um a um, todos os infortúnios se tornam vis
Exceto o medo, o medo nunca se oblitera.

A ablepsia

Certo é que há escuridão
O tempo passa
E não sabe mais com que velocidade ir
Geralmente vai rápido de mais...

Tão rápido que os corações apaixonados
Migram em questão de dias para outro amor
Quase que inexplicavelmente...
E são felizes

Porém a outra metade esquecida
Procura compreender esse amor falido
Jurado com fervor a tão pouco tempo
E que ainda flameja timidamente em si

E essa busca
Definitivamente
Não terminará em um novo amor

Eu lírico

Eis que desperto subitamente
Com o sol a se pôr
Levando o meu sonho embora,
Sonho bom...

Me vejo acordado e perdido
O que incomoda
É um imenso vazio
Que nem sei de onde vem

Nem sei pra que existe
Isso que me preenche
De angústias e reticências...
Fico sem saber o que, como e por onde

Recomeçar...

Doce Exílio

E assim foi efêmero,
Caindo direto no limbo
De repente surgem barreiras
Pontiagudas e ásperas

O exílio, abrupto e certeiro
Quando menos se espera
Envolve inescrupulosas sensações
Em torno de um ser que padece...

Que atordoado tenta se libertar
Aos poucos...
Retomar as suas origens
Em seu interior vive profundas mágoas
Vítima de sua própria imensidão